Rio Grande do Sul tem lista imensa de projetos eólicos offshore – mas faltam linhas para transmitir a energia

Realizado no Rio Grande do Sul, Wind of Change debateu o mercado de energias renováveis com foco nos avanços e possibilidades de liderança do país no setor

Governador do RS, Eduardo Leite (dir.), e embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Elizabeth Frawley Bagley (esq.), participaram do evento nesta quarta (19) — Foto: Guilherme Justino

O Rio Grande do Sul vem se mantendo em alta aos olhos dos investidores em energia eólica offshore. Até o início de abril, o estado tinha 22 projetos em tramitação no Ibama, empatado com o Ceará na liderança entre as unidades da federação, ambos muito à frente do terceiro colocado, o Rio Grande do Norte, com 10. No país inteiro, há 74 desses projetos em avaliação ambiental. O total de capacidade planejada para os projetos gaúchos (quase 60 GW) supera o total previsto para os projetos cearenses. A expectativa de geração de energia limpa no litoral sul do Brasil é ótima, mas o país carece da infraestrutura para transmiti-la.

“Observamos uma forte expansão da geração de energia eólica, mas uma limitação das nossas linhas de transmissão”, disse na quarta-feira (19/4) o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. “Trabalhamos para agilizar os processos de licenciamento dos projetos que estavam em curso, para liberarmos com rapidez os investimentos para 3,2 mil quilômetros de linhas de transmissão no Estado”.

O diagnóstico não é novo. Desde 2015, quando ocorreu no país o primeiro Leilão de Energia de Reserva exclusivamente dedicado à fonte eólica, foram contratados 470 empreendimentos, com a Bahia em primeiro lugar (132 empreendimentos) e, em segundo, o Rio Grande do Sul (83 empreendimentos) -- único estado fora do Nordeste a atrair projetos. Esse aquecimento do setor evidenciou a necessidade de mais linhas de transmissão.

A lista de iniciativas apresentadas por Leite, a fim de aumentar a infraestrutura de energia limpa no estado, incluiu acelerar e baratear custos de licenciamento ambiental estadual, estabelecer um comitê de planejamento energético e atualizar o mapa do potencial energético gaúcho. A explicação foi dada no evento Wind of Change – Encontro de Investidores em Hidrogênio Verde e Eólicas Offshore/Nearshore, realizado em Porto Alegre (RS) na terça (18) e quarta-feira (19). João Salmito Filho, secretário de Desenvolvimento Econômico do governo do Ceará, também esteve no encontro.

Em uma série de painéis realizados nesta quarta, focados no planejamento governamental para a geração de energia limpa, discutiu-se também o potencial do hidrogênio verde. Especialistas destacaram que o potencial brasileiro é enorme, mas é preciso mostrar capacidade para que os interesses em investir se materializem.

Leite garantiu aos investidores presentes que o Estado está fazendo estudos para mostrar seu potencial de receber recursos do setor. De acordo com o governador, uma consultoria internacional - a McKinsey - foi contratada para viabilizar estudos robustos que mostrem o potencial do Rio Grande do Sul para atender à demanda interna, exportar energia e, futuramente, até tecnologia. Desde 2022, o governo gaúcho assinou quatro memorandos de entendimento no segmento, com Enerfín, Neoenergia, Ocean Winds e White Martins. Parte desses projetos considera a integração com investimentos em usinas eólicas offshore.

"Estou muito seguro de que estamos trilhando um bom caminho como uma alavanca para o nosso Estado. O mundo buscando fontes renováveis é oportunidade para o Brasil. Grande momento é agora, que já temos matriz alicerçada em energias renováveis, para trazer investimentos para cá", destacou.

Os usos possíveis para o hidrogênio estão se expandindo em vários setores, incluindo geração de energia, processos de fabricação em indústrias como siderurgia e produção de cimento, células de combustível para veículos elétricos, transporte pesado, como transporte marítimo, produção de amônia verde para fertilizantes, produtos de limpeza, refrigeração, e estabilização da rede elétrica.

"O hidrogênio verde ainda é incipiente no mundo, mas fica evidente como iniciativa associada à economia (verde), que ganha valor no mundo. Temos a possibilidade clara de posicionar o país dentro de uma agenda que cada vez mais ganha relevância no Planeta", destacou Guilherme Sari, presidente do Sindicato da Indústria de Energias Renováveis do RS (Sindienergia-RS).

João Salmito Filho, secretário de Desenvolvimento Econômico do governo do Ceará, explicou que o Brasil é um dos locais do mundo com maior competitividade de potencial natural para essa transição energética. Foi produzida no Ceará, no início deste ano, a primeira molécula de hidrogênio verde do Brasil. Salmito contou que o feito realizado no Estado foi a primeira etapa estratégica do desenvolvimento do projeto piloto de H2V no Complexo Termelétrico do Pecém (UTE Pecém), em São Gonçalo do Amarante, que tem à frente a EDP Brasil e parceiras estratégicas.

"Nosso próximo passo é tornar o hidrogênio verde uma realidade. No Ceará, ainda está em pesquisa, ainda está em desenvolvimento, mas já estamos trabalhando com hidrogênio verde. E o Brasil é um dos lugares mais competitivos do mundo para o uso do hidrogênio verde e seus derivados", comemorou ele.

Notícia publicada originalmente em: https://umsoplaneta.globo.com/energia/noticia/2023/04/20/rio-grande-do-sul-tem-lista-imensa-de-projetos-eolicos-offshore-mas-faltam-linhas-para-transmitir-a-energia.ghtml

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