Quem serão os primeiros consumidores de hidrogênio verde no Brasil?

Setores de refino, fertilizantes e amônia devem estar entre principais clientes, identifica estudo da CNI

Unidade de produção de fertilizantes da Unigel. Empresa arrendou duas plantas da Petrobras e está interessada na UFN 3, em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul (Foto: Unigel/Divulgação)

Diálogos da Transição


Editada por Nayara Machado
nayara.machado@epbr.com.br

A série de debates dos Diálogos da Transição está de volta, de 29/8 a 2/9
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Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre as perspectivas de aplicação do hidrogênio na indústria brasileira identificou que os setores de refino e fertilizantes — grandes consumidores de hidrogênio cinza — têm potencial de uso imediato das opções sustentáveis como estratégia de descarbonização.

O hidrogênio cinza é produzido com gás natural. As alternativas sustentáveis analisadas pela CNI consideram o azul (gás natural com captura e armazenamento de carbono) e o verde (eletrólise da água com energia renovável).

Já no curto e médio prazos (três a cinco anos), siderurgiametalurgiacerâmicavidro cimento aparecem como os potenciais consumidores.

O refino tende a ser o principal cliente — hoje, cerca de 74% do hidrogênio consumido na indústria brasileira são destinados às refinarias.

O documento destaca o crescimento da demanda por H₂ para o hidrotratamento de derivados de petróleo para atender regulações ambientais cada vez mais exigentes, e, mais recentemente, a adoção crescente de óleos vegetais como matéria-prima no refino.

De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), a capacidade mundial de produção de HVO (óleo vegetal hidrotratado, também conhecido como diesel verde) atingiu 1,9 milhão de barris por dia no ano passado e deve duplicar até 2023.

Mas fazer essa transição no segmento vai demandar muita água e geração de energia.

Para substituir a produção anual de H₂ cinza da Petrobras por verde, por exemplo, seria necessário o consumo de 16.000 GWh de energia, uma potência da ordem de 1,82 GW de capacidade, pelos cálculos da CNI.

“Assumindo disponibilidade de 40% para energia eólica, substituir a totalidade de H2 produzido pela Petrobras requereria capacidade instalada de energia eólica de 4,55 GW”, diz o documento.

Os setores de fertilizantes e amônia vêm logo em seguida. Na análise, a CNI indica “grande potencial” na produção de amônia a partir de hidrogênio verde próxima ao agronegócio, que hoje consome 87 mil toneladas por ano de H₂.

O H₂ de eletrólise ou biomassa poderia substituir o gás natural na produção de fertilizantes, ajudando a resolver questões de custo e logística:

Como o preço do gás natural brasileiro é historicamente alto em comparação com os preços internacionais, hoje vale mais a pena importar o produto — o agro importa 85% dos volumes de fertilizantes nitrogenados.

O custo de transporte de fertilizantes desde as plantas de produção localizadas no Nordeste ou dos portos de importação até as principais fronteiras agrícolas do país é muito elevado.

Além disso, a amônia também desponta como o combustível da transição no transporte marítimo.

Em abril deste ano, Yara International e Azane Fuel Solutions assinaram um acordo comercial para estabelecer uma rede de bunkers — combustível de navios– à base de amônia verde na Escandinávia até 2024.

Enquanto Maersk, Keppel Offshore & Marine e Sumitomo Corporation estudam a viabilidade do uso da amônia verde para estabelecer uma cadeia de suprimento no Porto de Cingapura, o maior porto de bunkering do mundo.

Como chegar lá?

Desenvolver a cadeia de hidrogênio sustentável depende, no entanto, de medidas estruturantes, como uma política industrial para impulsionar a produção de equipamentos e prestação de serviços, ressaltam os representantes da indústria.

“O foco é a construção de marcos regulatórios que tragam segurança aos investimentos, incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de tecnologias, adoção das melhores práticas internacionais e promoção de estudos que dimensionem adequadamente o potencial do segmento”, resume Robson Braga de Andrade, presidente da CNI.

O setor reconhece um avanço do governo federal para assumir um protagonismo na formulação de políticas para o setor, mas considera que “a velocidade de elaboração das políticas para o hidrogênio não é compatível com a rápida multiplicação de projetos” do setor privado, nem com o “tamanho do desafio que representa a criação de uma nova indústria energética no país”. 


Para a agenda

16/8  A CNI realiza, nos dias 16 e 17 de agosto de 2022, o evento Estratégia da Indústria para uma Economia de Baixo Carbono. Será um diálogo do setor empresarial com especialistas nacionais e internacionais sobre transição energética; mercado de carbono; economia circular e conservação florestal.

O encontro, em São Paulo, também marca o lançamento do estudo Hidrogênio Sustentável: perspectivas e potencial para a indústria brasileira.

14/9 — 1° Congresso Internacional Obsolescência do Carvão Mineral, Energias Sustentáveis e Transição Justa ocorre em formato híbrido (presencial e on-line) em quatro cidades brasileiras: Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC) e Curitiba (PR).

O evento é aberto a pesquisadores de todas as áreas do conhecimento e nacionalidades, que podem apresentar trabalhos técnicos em seis linhas temáticas. O prazo para submissão dos trabalhos vai até 26 de agosto.

Nayara Machado

Nayara Machado

Jornalista especializada em energia e combustíveis com foco em clima e sustentabilidade. Edita a newsletter Diálogos da Transição  nayara.machado@epbr.com.br

Notícia publicada originalmente em: https://epbr.com.br/quem-serao-os-primeiros-consumidores-de-hidrogenio-verde-no-brasil

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