Cidades verdes: urgência climática acelera transição para modelos urbanos sustentáveis

Do Brasil ao Reino Unido, aumenta necessidade de tornar a vida urbana mais sustentável, desde a construção até o transporte

"Edifício verde", com telhado de grama, em Edimburgo, na Escócia (Reino Unido) — Foto: Ashley Cooper/Construction Photography/Avalon/Getty Images
"Edifício verde", com telhado de grama, em Edimburgo, na Escócia (Reino Unido) — Foto: Ashley Cooper/Construction Photography/Avalon/Getty Images

Para mostrar comprometimento com alguma causa, é preciso dar o exemplo. Sede da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), Glasgow, na Escócia, parece estar no caminho certo. Pelo menos quando se trata de planejamento urbano conectado ao ambiente, tema da reunião nesta quinta-feira (11), penúltimo dia do evento que reúne quase 200 países para acelerar a ação em direção aos objetivos do Acordo de Paris.

Em todo o território escocês, conforme anunciou o governo na quarta (10), as novas construções terão que mostrar como ajudam a cumprir as ambiciosas metas do país de reduzir as emissões a zero líquido até 2045, para só então poder conseguir aprovação. Os pedidos que incluírem, por exemplo, a reutilização de terrenos baldios e abandonados terão maior probabilidade de sucesso, de acordo com o Quadro de Planejamento Nacional divulgado para consulta pela Escócia.

O que a Escócia está buscando são propostas que promovam iniciativas como a criação de "bairros de 20 minutos", onde os serviços são facilmente acessíveis a pé ou de bicicleta. O plano envolve, ainda, o apoio a empreendimentos que contribuam para a restauração da natureza, impulsionem o crescimento sustentável das áreas rurais, criem mais locais para atender às necessidades da população sem precisar de grandes deslocamentos, e incentivem o investimento verde.

"Enquanto os delegados da COP26 debatem o futuro do nosso planeta, estamos orgulhosamente publicando nosso novo planejamento nacional, que propõe considerar o impacto das aplicações nas mudanças climáticas e em nosso ambiente. Esse plano visa transformar os lugares para que mais pessoas vivam em casas bem projetadas e com eficiência energética, localizadas a uma curta distância a pé de serviços locais e espaços verdes, e coloca o planejamento no centro do debate ambiental, com ações inclusivas e duradouras de desenvolvimento sustentável de longo prazo", definiu Tom Arthur, ministro do Planejamento da Escócia, ao anunciar o plano.

As propostas de energia renovável, incluindo o aumento da potência dos parques eólicos existentes, serão apoiadas pelo governo – ajudando a tornar a Escócia um exportador de energia. O plano, que está aberto para sugestões da população, vai incorporar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU) nos padrões nacionais e pode moldar as decisões de planejamento para os próximos 30 anos, conforme a Escócia.

Exemplos pelo mundo

Mas a Escócia, apesar de estar se esforçando para dar o bom exemplo, como anfitriã da COP26, ainda está atrás de países que já estão promovendo a criação e manutenção de cidades mais verdes. E uma boa inspiração está ali perto.

Sheffield, a sexta cidade mais populosa da Inglaterra, já foi descrita por George Orwell como a "cidade mais feia do mundo antigo". Mas a realidade atual é outra: Sheffield foi eleita a cidade mais verde do Reino Unido, conforme o The Independent, quando a Inglaterra ainda fazia parte do bloco. Seus 91 km2 de área verde e um nível "impressionante" de produção de energia renovável “ajudaram a 'cidade de ferro' a vencer”.

Espaços verdes, incentivo ao uso de transportes sustentáveis – individuais e coletivos – em vez do carro e utilização consciente da energia, além de combate ao desperdício e reforço na reciclagem, tudo aliado à qualidade do ar, foram alguns dos fatores-chave na escolha de pesquisadores que analisaram 17 conjuntos separados de dados ambientais em um estudo abrangente para chegar a esse resultado.

Tudo mais perto: Paris investe €250 milhões para se tornar uma 100% adepta ao ciclismo. — Foto:  leezsnow/getty images
Tudo mais perto: Paris investe €250 milhões para se tornar uma 100% adepta ao ciclismo. — Foto: leezsnow/getty images

Paris também está nesse caminho. A capital francesa deseja se transformar na “cidade do ciclismo” até 2026 na Europa. Para atingir essa meta ambiciosa, está investindo 250 milhões de euros no desenvolvimento de sua infraestrutura e na manutenção de bicicletas nos próximos quatro anos. Milhares de novos suportes para bicicletas e um número muito maior de ciclovias serão introduzidos como parte do ‘Plano Velo: Ato 2’.

"Esse plano de ciclismo é um dos pilares essenciais da transformação ecológica e social que lideramos em Paris", afirmou o vice-prefeito de Paris, David Belliard.

Guadalajara, no México; Toronto, no Canadá e Hyderabad, na Índia, também são destaque: neste ano, receberam o título de Cidades de Árvores do mundo. A honraria, concedida pela Fundação Arbor Day e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), premia locais que provam seu compromisso com as árvores e a silvicultura, atendendo a cinco padrões de qualificação relacionados ao manejo e à celebração das florestas urbanas.

E o Brasil também faz parte da lista. Campo Grande, no estado de Mato Grosso do Sul, e as cidades de São Carlos e de São José dos Campos, no estado de São Paulo, estão entre as capitais distinguidas na iniciativa. Mas a participação do Brasil ainda é tímida entre as cidades mais verdes do mundo. Como mudar esse cenário?

"É fundamental que se estabeleça uma estratégia de política de finanças sustentáveis de longo prazo entre governos para garantir clareza ao setor financeiro, demonstrando aos investidores internacionais o forte compromisso do país com o tema, bem como os compromissos para o enfrentamento dos riscos de mudanças climáticas no mundo", explica João Lampreia, gerente nacional da Carbon Trust no Brasil e um dos autores de um estudo publicado em setembro sobre barreiras em infraestrutura sustentável no país.

Cidades verdes encorajam estilos de vida sustentáveis para suas populações e fornecem recursos para tornar possível uma vida mais conectada à natureza. Elas também são projetadas para adotar uma abordagem ativa no combate às mudanças climáticas e serem ecologicamente corretas. Essas cidades verdes costumam, ainda implementar programas de reciclagem, ciclovias e parques comunitários, e têm padrões rígidos de qualidade da água, cada vez mais necessários enquanto o mundo luta contra a crise climática.

Notícia publicada originalmente em: https://umsoplaneta.globo.com/sociedade/noticia/2021/11/11/cidades-verdes-urgencia-climatica-acelera-transicao-para-modelos-urbanos-sustentaveis.ghtml

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