BNDES insiste em defender exploração de petróleo para financiar transição energética

Nem mesmo antecipação do pico de consumo de petróleo para antes de 2030 projetada pela Agência Internacional de Energia demove banco de querer mais petróleo.

Uma semana após o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, defender na Comissão de Meio Ambiente do Senado a exploração de petróleo na foz do Amazonas – que, estrategicamente, agora nomeia como “Margem Equatorial” –, informa o Valor, a diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática [????] do banco, Luciana Costa, assina um artigo com outros técnicos da instituição reforçando o discurso do chefe. O documento tem o sugestivo [e falacioso] título “A transição energética e o setor de óleo e gás brasileiro”.

A visão do BNDES e da ala do governo que defende um desenvolvimento típico do século passado, capitaneada por Petrobras e os ministérios de Minas e Energia e Casa Civil, é que a renda petrolífera será fundamental para a transição energética, informam epbr e Petronotícias. “A Noruega utiliza a renda que ainda acumula com o petróleo para ser um dos países que mais investem na agenda de combate ao aquecimento global”, diz o estudo.

Para defender a suspeitíssima premissa mais petróleo para mais transição, o artigo liderado por Luciana Costa destrincha cifras vultosas. Diz que o setor de petróleo e gás fóssil brasileiro deve contribuir com R$ 3,96 trilhões no PIB nacional até 2032. A geração de empregos, no mesmo período, deve garantir R$ 792 bilhões em salários e outros R$ 487 bilhões em impostos, sem contar as participações governamentais.

“A renda do petróleo, além de ser usada para financiar a transição, pode ser utilizada para viabilizar uma nova fase de industrialização. O Brasil tem grande potencial de se consolidar como um grande produtor mundial de várias formas de energia competitivas e ambientalmente sustentáveis. O enfrentamento mundial do aquecimento global e a transição energética para uma economia de baixo carbono podem abrir novas possibilidades para o país, desde que se opte por uma política de transição que equilibre os diversos desafios e oportunidades existentes, sem comprometer a segurança de abastecimento de energia”, continua o texto.

Mais uma vez, o que se vê é um jogo de erros. A começar pelos valores, que, se as projeções de queda de consumo da IEA se confirmarem, não deverão ser tão grandes. Soma-se a isso o fato de que o setor de combustíveis fósseis, em todo o mundo, é um dos mais subsidiados por governos. Se a ideia é gerar recursos para limpar a matriz energética, a proposta é investir dinheiro público em mais energia suja para, depois, produzir energia limpa?

Essa conta, mais uma vez, não fecha. Nem financeiramente, nem para a nossa sobrevivência no planeta diante da escancarada crise climática. Cuja principal causa, como se sabe, é a queima dos combustíveis fósseis.

Notícia publicada originalmente em: https://climainfo.org.br/2023/11/07/bndes-insiste-em-defender-exploracao-de-petroleo-para-financiar-transicao-energetica

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