CNI traça futuro promissor do hidrogênio renovável no Brasil

A entidade lançou um estudo de perspectivas para utilização do hidrogênio renovável no país, com dicas práticas para estruturar os avanços

Em evento realizado nesta semana em São Paulo, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) lançou o estudo Hidrogênio Sustentável: Perspectivas e Potencial para a Indústria Brasileira, onde aponta caminhos para o país adotar o hidrogênio renovável como “nova fronteira energética”. O estudo destaca o potencial nacional para produção e utilização imediata e/ou de médio e longo prazos de hidrogênio renovável. O foco está no hidrogênio verde – produzido a partir de fontes de energias limpas e, portanto, sem emissão de gases de efeito estufa – e o hidrogênio azul, cuja produção ocorre a partir do gás natural, com emissões mitigadas através da aplicação de tecnologias para captura e armazenamento de carbono.

hidrogênio renovável

Reprodução: Site CIMM

Desde 2021, segundo o relatório, foram anunciados 131 novos projetos de larga escala em hidrogênio, com investimentos previstos de cerca de US$ 500 bilhões até 2030. Somente em 2022, mais de 30 países teriam lançado planos nacionais nessa área.

“Para atingir os objetivos do Acordo de Paris, cujo propósito é reduzir a emissão de gases de efeito estufa, o mundo precisará descarbonizar grande parte do sistema energético mundial”, destaca o documento. “É nesse contexto que o aproveitamento energético do hidrogênio se apresenta como uma alternativa eficaz para a descarbonização da economia global”, contextualiza. 

Expectativas altas para o hidrogênio renovável

O estudo identificou também que, desde 2000, o total de 990 projetos de hidrogênio foram realizados no mundo, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA). Eles estão espalhados por 67 países, sendo que o Brasil concentra quatro deles, localizados no Porto do Pecém (CE), Porto de Suape (PE) e Porto do Açu (RJ).

Presente virtualmente no evento da CNI, o assessor sênior para o Diálogo Global sobre Energia da Agência Internacional de Energia (IEA), Joerg Husar, diz que “o mundo começa, de fato, uma curva descendente de emissão de carbono pela primeira vez na história, e isso é um efeito prático do Acordo de Paris”. 

Destacando o hidrogênio verde como um dos pilares da transição energética até 2050, ele explica que a “nova economia energética está emergindo”. Em detalhes, Husar mostra que os comércios de recursos relacionados à energia atingiram 1,5 trilhão de dólares em 2019, sendo os derivados de petróleo responsáveis por 66% disso. O gás natural respondeu por 14% dos recursos e os minerais críticos, como o cobalto, por 11%. 

Em uma projeção de cenário ideal para 2050 – data de corte estabelecida no Acordo de Paris – a IEA prevê que os recursos relacionados à energia podem ser reduzidos a 0,9 trilhões de dólares. Porém, a matriz seria invertida consideravelmente, com o hidrogênio assumindo posição de destaque, com 35% de representatividade sobre o montante. Os minerais críticos também cresceriam em proporção, chegando a representar 47% do valor estimado. Já os derivados de petróleo, por outro lado, perderiam o seu protagonismo atual e passariam a representar 11% dos recursos. “Isso mostra que a nova economia está emergindo com mais eletrificação, eficiência, energia limpa e digitalização, oferecendo também enormes oportunidades para crescimento do emprego”, diz.

No Brasil, a CNI concorda com o potencial para a reestruturação da indústria com base em energia limpa e sustentável. Segundo o presidente da entidade, Robson Andrade, o país tem condições de ser protagonista no processo de descarbonização da economia mundial justamente por meio de tecnologias limpas, como o hidrogênio verde. “A consolidação do Brasil como produtor de hidrogênio tem o potencial de gerar empregos, atrair novas tecnologias e investimentos e desenvolver modelos de negócios, bem como inserir o país em uma posição relevante na cadeia global de valor, o que pode alterar positivamente a balança comercial do país”, diz.

Sugestões para o avanço do hidrogênio sustentável 

Para esse avanço, a CNI defende a criação de medidas estruturantes para o desenvolvimento do hidrogênio renovável no Brasil, incluindo a criação de uma política industrial que impulsione a produção de equipamentos e prestação de serviços nesse mercado, o que demanda incentivos a novos financiamentos. 

Outra medida está relacionada à infraestrutura de transporte e armazenamento do hidrogênio renovável, o que envolve o estabelecimento de protocolos de segurança na manipulação do gás, além de normatizações e formação de recursos humanos. “O foco é a construção de marcos regulatórios que tragam segurança aos investimentos, incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de tecnologias, adoção das melhores práticas internacionais e promoção de estudos que dimensionem adequadamente o potencial do segmento”, diz o presidente da CNI.

No estudo recém-lançado pela entidade, são destacados os setores industriais de refino e fertilizantes, que são grandes consumidores de hidrogênio e têm potencial de uso imediato do hidrogênio renovável como estratégia de descarbonização. Já a siderurgia, a metalurgia, o setor cerâmico, o de vidro e o cimenteiro apresentam os maiores potenciais de adoção do hidrogênio renovável no curto e médio prazos (de 3 a 5 anos).

Na siderurgia, especificamente, já há demanda internacional para o aço verde – que pode ser obtido com o uso do hidrogênio também verde – segundo a CNI. Nesse caso, o gás é usado como substituto do coque (subproduto do carvão mineral), adicionado ao minério de ferro para produção de ferro-esponja, com emissão de dióxido de carbono. Com o uso de hidrogênio verde, a reação não libera dióxido de carbono, pois o único subproduto é a água.

A produção de amônia a partir de hidrogênio verde em localidades próximas ao agronegócio representa outra oportunidade interessante, segundo a CNI. E já haveria demanda para isso no mercado internacional, que considera o insumo como um dos combustíveis marítimos mais promissores em busca da redução da emissão de gases de efeito estufa na indústria naval.

Nesse contexto, a entidade propõe a criação do Observatório da Indústria para o Hidrogênio Sustentável, que é uma plataforma para divulgar informações e análises sobre tecnologias, projetos e políticas públicas voltadas à indústria nacional. “Além do monitoramento dos avanços da cadeia do hidrogênio sustentável no Brasil, o Observatório pretende contribuir para a avaliação da competitividade econômica e ambiental do hidrogênio sustentável nacional e produtos industriais derivados de seu uso”, defende a CNI.

Enquanto isso, contudo, a entidade listou algumas recomendações práticas para consolidação do mercado de hidrogênio renovável no Brasil. Veja:

  • Elaboração de metas e estratégias como desdobramento do Programa Nacional do Hidrogênio. 
  • Elaboração de estudos relacionados à demanda e à oferta (existente e potencial). 
  • Elaboração de uma política industrial para estruturação da cadeia de fornecedores de hidrogênio no país, com seleção de setores e segmentos potencialmente competitivos. 
  • Implementação do mercado de crédito de carbono como pilar para incentivar a descarbonização de segmentos da indústria. 
  • Capacitação de pessoas para trabalhar na cadeia do hidrogênio. 
  • Elaboração de um Programa Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento em Hidrogênio Sustentável. 
  • Elaboração de uma política nacional para produção de fertilizantes descarbonizados a partir do hidrogênio sustentável. 
  • Organização do mercado interno, por meio de incentivos para substituição de hidrogênio cinza por hidrogênio sustentável nos segmentos de refino, amônia e fertilizantes; estudos sobre o potencial para descarbonização de segmentos energointensivos (siderurgia, cimento, cerâmica, vidro e setor químico); e avaliação da competividade econômica e ambiental.

Infográfico da CNI com tipos de hidrogênio, que pode ser obtido da eletrólise da água ou da biomassa e biocombustíveis, como etanol e o metano.

Postado originalmente em: https://www.alemdaenergia.engie.com.br/cni-traca-futuro-promissor-do-hidrogenio-renovavel-no-brasil

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